segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Review - Quanto Mais Quente Melhor



Se somente alguns ou – por que não? – algumas – essa dualidade não poderia fazer rima melhor com outro filme gostam de quente e Marilyn não poderia estar mais – nem ela nem qualquer outra, eu não posso afirmar. Mas, sem pudor, posso atestar o conjunto de sarcasmo, inteligência, carisma e sensualidade esse último, especialmente, pela forma um pouco acima do peso para os padrões atuais da icônica atriz como a melhor comédia já produzida por Hollywood.

Como uma proposta arriscada nas mãos do quase lendário Billy Wilder, Quanto Mais Quente Melhor nasceu da tentativa do diretor e co-roteirista de organizar e reproduzir o que tentou com O Pecado Mora ao Lado - aquele no qual certo vestido branco, descuidado, alçou voo e imortalizou uma cena -. Mas Wilder sabia que o trabalho de quatro anos antes não havia sido suficientemente atrevido e, muito menos, cômico.

Passando por diversos problemas durante as gravações, sendo, os mais notáveis, a respeito da própria Marilyn, que se encontrava depressiva e, inclusive, havia interrompido uma gravidez acidentalmente - e tudo indica que tal imprevisto ocorreu durante as repetidas tomadas da sequência na qual ela tropeça nos pés do colega Tony Curtis -, a fita, em seu resultado final, não evidencia qualquer vestígio de dificuldade. Mesmo as repetições exaustivas não se traduzem nas expressões do elenco.

Para problematizar tudo ainda mais, a dificuldade de decorar as falas era, àquela época, recorrente nos trabalhos de Marilyn. Isso se reflete numa determinada cena na qual ela, falando ao telefone, abertamente demonstra que está lendo as palavras que verbaliza.

Assim, com tudo isso esse longa tornou-se, com sua violência verdadeiramente descaracterizada, sua transposição dos bons costumes e seu travestismo abusado, pioneiro, além de por preconceitos abaixo com muitas gargalhadas. Tudo sem qualquer mesura fingida.

A fotografia, que se utiliza de um belo preto e branco para suavizar a maquilagem da dupla de transformistas que, a cores, não atingiriam o mesmo grau de feminilidade e realidade, é hábil e inteligente ao ressaltar, em luz e sombra, a beleza ofuscante da estrela maior.

Mas, se Marilyn Monroe irradiava beleza e, sim, talento àquela época, o destaque maior do elenco é Jack Lemmon, que vive Jerry, um pueril violoncelista. É ele quem protagoniza sequências de farsa clássicas, como a do tango ao lado do também ótimo Joe E. Brown.

Wilder superando a si mesmo na direção, a trama hipnotizante escrita pelo próprio diretor e por I.A.L. Diamond, incrivelmente engraçada e que, ainda, toca em assuntos pertinentes e atuais, o timing de diálogos primoroso e, aqui, Marilyn sobrepujou a todos – sendo muito difícil acreditar, ao assistir, que estava passando por situações complicadas em sua vida particular, a equipe técnica inteiramente competente e dedicada, o elenco que parece se divertir e é possível que as gravações desse filme tenham sido um escape para o eterno símbolo sexual do cinema e a ousadia na utilização de um evento chocante o Massacre do Dia de São Valentim – que, não fosse o respeito com que é mostrado, faria tudo ruir na irresponsabilidade, construíram juntos e ao lado de incontáveis minudências, uma das melhores comédias do cinema.

Se quanto mais quente é melhor, mais engraçado beira a impossibilidade artística. E se somente beira é porque "ninguém é perfeito".

Por Mahiba Grisolia